Os cardeais reunidos no conclave na Capela Sistina, no Vaticano, não conseguiram escolher o novo Papa na primeira votação, realizada nesta terça-feira (12).
A fumaça preta se ergueu da chaminé da Capela Sistina, onde ocorre a
reunião secreta dos cardeais, às 19h41 locais (15h41 de Brasília),
segundo o Vaticano, durante vários minutos, indicando que nenhum
participante obteve a maioria de dois terços dos votos necessária para
eleger o novo pontífice.
O público que estava na Praça de São Pedro, sob chuva e frio, e que
esperava a fumaça branca e os sinos que indicariam a escolha de um novo
Papa recebeu a fumaça preta produzida pela queima dos votos dos cardeais
com decepção. Logo depois, a praça ficou vazia.
Com o fim da primeira votação, os cardeais seguem confinados na Casa de
Santa Marta, e o conclave para eleger o sucessor de Bento XVI continua
nesta quarta-feira, com duas votações pela manhã e outras duas à tarde,
ou até que um dos participantes obtenha os 77 votos necessários ou mais
para ser escolhido o novo Papa.
A eleição do novo pontífice ocorre após a surpreendente renúncia do agora Papa Emérito Bento XVI, anunciada em 11 de fevereiro e efetivada em 28 de fevereiro,
e que criou uma situação praticamente inédita para a Igreja moderna, em
que dois pontífices, um atuante e outro "aposentado", devem coabitar o
Vaticano, a poucos metros um do outro.
O alemão Josef Ratzinger deixou o cargo após oito anos de um pontificado marcado por crises e divisões internas.
Ele deixa para seu sucessor desafios como os escândalos relativos aos
casos de pedofilia no clero de vários países, as disputas internas na
Cúria Romana e a expansão do secularismo e de religiões concorrentes.
O cardeal brasileiro Dom Odilo Pedro Scherer é citado, pela imprensa e por analistas, como um dos cotados para ser o novo Papa, ao lado do italiano Angelo Scola, mas a previsão é de a eleição difícil, sem favorito absoluto.
Cardeais ouvidos pela agência Reuters nesta terça afirmaram que a decisão poderia levar cerca de 5 dias.
Segundo informou o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano,
pouco depois de fecharem as portas da capela, os cardeais que entraram
na Capela Sistina para eleger o novo Papa estão "em muito boa forma".
Missa Pro Eligendo Pontifice
Mais cedo, Dom Angelo Sodano, cardeal decano da Igreja Católica, apelou pela "colaboração" e pela "unidade" dentro da Igreja, durante a missa Pro Eligendo Pontifice, que precedeu o conclave.
Todos os cardeais presentes em Roma, eleitores ou não, participaram na
cerimônia, uma das mais intensas dos últimos anos. Eles entraram na
Basílica de São Pedro com semblante sério e concentrado.
Sodano exortou os cardeais a "colaborar para edificar a unidade da
Igreja" e "cooperar com o sucessor de Pedro". "Estamos convocados a
cooperar com o Sucessor de Pedro, fundamento visível de tal unidade
eclesiástica', afirmou o influente cardeal.
"Eu os exorto a se comportarem de maneira digna, com toda humildade, mansidão e paciência, suportando-se reciprocamente com amor, tentando conservar a unidade do espírito por meio do vínculo da paz", disse Sodano, em referência à carta de São Paulo aos Efésios.
Ao ser citado pelo cardeal decano, o Papa Emérito Bento XVI, que está
repousando na residência papal de verão em Castel Gandolfo, foi bastante
aplaudido.
Sodano afirmou que o pontificado de Bento XVI foi "luminoso" e
expressou a gratidão dos cardeais ao Papa Emérito, pedindo a Deus que dê
"outro bom pastor à sua Santa Igreja". "Queremos agradecer ao Pai que
está nos Céus pela amorosa assistência que sempre reserva a sua Santa
Igreja e em particular pelo luminoso pontificado que nos concedeu com a
vida e as obras do 265º sucessor de Pedro, o amado e venerado pontífice
Bento XVI, ao qual neste momento renovamos toda a nossa gratidão",
disse.
No sermão, o cardeal também citou os Papas João Paulo II e Paulo VI,
alem de lembrar o trabalho importante da Igreja nos últimos anos, que
tem impacto não apenas entre os fieis, mas em diferentes culturas.
“Oremos para que o próximo Papa possa continuar esse incessante trabalho de nível mundial”, afirmou.
Cardeais assistem à missa Pro Eligendo Pontifice nesta terça-feira (12) na Basílica de São Pedro, no Vaticano (Foto: AFP)
Cardeais concentrados
A missa atraiu principalmente pessoas ligadas à Igreja, como seminaristas, padres e freiras, e também fiéis. Dentro da Basílica, todos estavam muito atentos às orações e respeitosos aos ritos.
O máximo de conversa ouvida durante a missa foi a tradução das palavras
para outros idiomas entre pessoas próximas – a missa foi celebrada
basicamente em latim e italiano, com a primeira leitura em inglês e a
segunda em espanhol-, além de orações dos fieis em cinco outros idiomas,
incluindo o português.
Para conseguir um lugar sentado – especialmente perto do altar, onde ficaram os cardeais – foi preciso acordar cedo.
Para conseguir um lugar sentado – especialmente perto do altar, onde ficaram os cardeais – foi preciso acordar cedo.
Às 9h, uma hora antes do início da missa, todos os lugares sentados já
estavam ocupados. Muitas pessoas ficaram em pé nas laterais. Pouco antes
do inicio da missa, o rosário foi rezado em latim.
Na entrada dos cardeais, nem mesmo os religiosos tiveram cerimônia – centenas de câmeras fotográficas e celulares foram levantados para registrar imagens dos homens que irão eleger o próximo pontífice a partir desta tarde. Quase todos os cardeais entraram concentrados, com semblante sério.
Na entrada dos cardeais, nem mesmo os religiosos tiveram cerimônia – centenas de câmeras fotográficas e celulares foram levantados para registrar imagens dos homens que irão eleger o próximo pontífice a partir desta tarde. Quase todos os cardeais entraram concentrados, com semblante sério.
Alguns, entretanto, se destacavam – foi o caso do brasileiro Dom João
Braz de Aviz, que entrou e saiu muito sorridente, visivelmente
emocionado, olhando os fieis nos olhos e cumprimentando-os com o olhar.
O norte-americano Timothy Dolan, arcebispo de Nova York ,também era só
sorrisos na entrada e na saída dos cardeais – ele chegou ate a arriscar
acenos para os fiéis.