Na década de 1950, famosos anos dourados, eu e mais cinco irmãos estudávamos no Rio de Janeiro, então capital da República. Mantidos, com muito sacrifício, por dona Maria e graças à previdência do Duque que nos legou um apartamento com o fim específico de acolher todos os filhos do casal enquanto estudantes. O imóvel pequeno, dois quartos, um destinado aos homens e outro às irmãs, além de sala de múltiplas utilidades, estudo, visitas e alimentação. Vivíamos modestamente mas matriculados nos melhores colégios, bem alimentados e transporte garantido. Um privilégio para originários de minúscula e pobre cidade do interior do Maranhão. Em nenhum momento houve dinheiro para desperdício. Nosso único compromisso : estudar, aproveitar todas as oportunidades que a grande metrópole pudesse oferecer, honrar o nome da família, as origens e voltar formados para servir a Coelho Neto.
Muito bonito de ver, mas profundamente difícil de viver. Para nós, ainda crianças, o mundo se resumia a Coelho Neto e o céu o Itapirema. Nostalgia e saudades eram nossas inseparáveis companheiras. Na saída de casa, para voltar somente nas férias do fim de ano, começávamos a contar os dias para o regresso. Naquela época os calendários eram folhetins onde os dias eram impressos individualmente; a cada amanhecer Bernardo levantava, arrancava o dia impresso com a expressão “morreu’. O banzo foi responsável pela desistência de alguns que voltaram antes da formatura.
Para enfrentar a monotonia inventávamos opções como passeio e cinema, não havia televisão em casa, houve uma semana em que eu e Bernardo combinamos ir a Paquetá, ilha balnearia nas proximidades do Rio. O deslocamento, de aproximadamente uma hora de duração, se fazia em grandes barcas que deslizavam mansamente sobre águas de transparência verde-esmeralda, era deslumbrante com inúmeros botos nadando em paralelo e aves marinhas sobrevoando em busca de alimentos jogados por turistas.
Desembarcamos em algo que mais se assemelhava a imagens de conto de fadas ou sonho encantado. Não havia veículo automotor, o tráfego feito em charretes estilo colonial ou em bicicletas que se podia alugar a cada esquina. Achei o máximo entregadores de compras pedalarem com as duas mãos ocupadas (cheias de embrulhos) equilibrando e dirigindo apenas com o peso do corpo. As ruas não eram calçadas, jardins estavam em toda parte, as casas sem muros respirava-se liberdade e bucolismo, poesia pura e encanto de viver.
Alugamos duas bicicletas e sem o hábito de pedalar (barbeiros) saímos por aí, tudo bem até encontrarmos , numa curva ladeira abaixo, um entregador de pastéis, mãos lotadas de sacos só no equilíbrio, não deu outra Bernardo foi em cima do pobre trabalhador atropelando-o inapelavelmente. Foi pastel pra todo lado, muitos risos, indenizações acertadas, o melhor a fazer era desistir de pedalar.
Para completar as aventuras resolvemos alugar um barquinho numa enseada de águas tranquilas e rasas. A “nau” dotada de dois remos fixos onde sentava-se o navegador e um banquinho atrás para o passageiro, no caso eu. Como mais velho e empolgado Bernardo assumiu o comando, remava com força para imprimir velocidade, em dado momento, já distante do local de partida o suporte de um dos remos quebrou.
Eu, tanto gordinho quanto manhoso, cruzei os braços e comecei a chorar. Bernardo que sempre cedeu a todas as minhas vontades, arrastou o barquinho até entregá-lo ao responsável. A estória foi uma fuga à monotonia, faça o mesmo hoje, fuja um pouco ao estresse da pandemia. Bom domingo, renovemos nossa Fé.
Eu, tanto gordinho quanto manhoso, cruzei os braços e comecei a chorar. Bernardo que sempre cedeu a todas as minhas vontades, arrastou o barquinho até entregá-lo ao responsável. A estória foi uma fuga à monotonia, faça o mesmo hoje, fuja um pouco ao estresse da pandemia. Bom domingo, renovemos nossa Fé.
(Magno Bacelar)
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