Até os anos 50, o carnaval em Coelho Neto se resumia a bailes em residências de famílias abastadas, cada dia em uma casa diferente. Iniciava-se no sábado encerrando na terça- feira, à meia-noite, impreterivelmente. Os adereços eram diminutos e se limitavam a fitas coloridas,
máscaras delicadas e pequenos chapéus cuidadosamente elaborados. As músicas eram marchinhas, quase sempre, antigas, ingênuas, tradicionais.
Dançava-se (pulava-se) separadamente, namorados rigidamente vigiados, trocavam olhares e sorrisos apaixonados enquanto se enlaçavam com serpentinas e confetes coloridos acelerando os corações ao ritmo da música. Ninguém cheirava lança-perfume (ha época importados e chamava-se RODO), mas era de bom tom mirá-lo nas jovens com cuidado para não atingir-lhe os olhos. Além de novidade era sinal de statos e intenção de paquera. Pode até parecer brega mas não se pode aquilatar, hoje, quanta emoção circulava alimentando sonhos e desilusões.
Já a classe média trabalhadora tinha a opção dos bailes, geralmente pagos, do baile popular no Centro Operário onde os costumes eram os mesmos com menos requintes e, pasmem, eram denominados “bailes de segunda”, aos quais também compareciam os rapazes ricos, vedados às moças de sua primeira classe.
Atividades de ruas eram raras e de pouca relevância. Crianças e adolescentes circulavam com máscaras diminutas imaginando, ingenuamente, estarem irreconhecíveis. Rapazes e moças desfilavam nos poucos veículos existentes, uma espécie de corso, cantando as canções alusivas à época.
A implantação do polo industrial, a mudança de mentalidade dela decorrente com importação de mão de obra especializada, de professoras trazidas de centros mais desenvolvidos, contribuiu, decisivamente, para a mudança de costumes, inclusive quanto ao carnaval.
Afonso Bacelar, prefeito e recém-formado no Rio, revolucionou a administração pública mas foi o Dr. Benedito, seu sucessor na prefeitura, quem inovou e deu brilho ao trido momesco. Trouxe especialistas e mestres do Rio para ensinar a fazer desfiles além de ter exibido o primeiro deles com fantasias, Pedro Frota (Frotinha) pintado de estátua prateada, quase morreu com os poros obstruídos pela tinta a óleo.
Dai a evolução para os blocos e escolas de samba organizados que abrilhantaram as tardes e noites. Surgiu o corredor da folia, depois “corredor da alegria”. Com o advento das grandes bandas nacionais, gestores municipais passaram a contratá-las, para melhorar o cacife político. Alguns empolgados pela fantasia chegaram a considerarem-se donos da festa a ponto de proibir a passagem dos oposicionistas pela área dos desfiles oficiais. De 2005 a 2008 esta proibição idiota foi abolida e a passarela passou a ser realmente do povo.
A avaliação quanto a qualidade e brilhantismo do período momesco, como tudo em Coelho Neto, sofre a interferência direta da política local. Para os situacionistas “o melhor de todos os tempos,” enquanto oposicionistas dirão “o pior de toda nossa história”. Candidatos se apropriam dos investimentos públicos, fazem convites pessoais e coligações eleitoreiras (campanha fora de época e abuso do poder econômico) com distribuição de fantasias e outras caronas tanto abusivas quanto ilegais.
Enquanto se diverte pacificamente, e às suas próprias custas, o povo dirá aos oportunistas desmascarados: “te conheço de outros carnavais...”
Autor: Dr. Magno Bacelar.
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