quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Coluna do Magno: De volta para casa…

Quando a saudade bate mais forte e as lembranças povoam meus pensamentos fico revivendo imagens da vida no ITAPIREMA. O casal acordando muito cedo, D. Maria levantava primeiro para preparar um delicioso cafezinho que o Duque saboreava ainda no quarto completando a liturgia do amanhecer. Logo a seguir cada um iniciava sua faina diária, ela distribuía as tarefas domésticas, determinava a limpeza e abertura da loja além de ficar ao pé do balcão para apontar os trabalhadores diaristas que compareceriam naquele dia, enquanto o marido de deslocava a passos largos para os currais, determinava a ração a ser distribuídas aos animais e escolhia quantos ou quais deveriam ser abatidos para a alimentação “da casa”, dos trabalhadores avulsos e de quem mais ali estivesse na hora do almoço.

Os filhos mais crescidos, quando em férias, participavam da lida diária com missões a cumprir já os menores, que ainda estudavam em Coelho Neto ou com professores particulares na própria fazenda, ocupavam o tempo livre com as brincadeiras típicas da roça. Embora numerosos além de trazerem convidados, colegas de colégio e parentes residentes na cidade, havia momentos em que a casa parecia deserta, não via um único jovem circulando à toa. Mas, se D. Maria ou o Duque chamavam, como por milagre, o convocado brotava a sua frente.

De outras vezes a garotada passava correndo enquanto a mãe ficava chamando José, Luis, Bernardo, Magno, Afonso, até parar naquele de quem precisava no momento. Com saudades me questiono, como seria aquela casa quando todos os filhos estavam ausentes? Que vazio sentiam e quão sofrida deveria ser aquela debandada repetida a cada início de ano? Como pais tão extremados suportavam tamanha martírio? Creio que Deus lhes dava forças e a certeza de que um dia todos estariam a sua volta.
                                                     Deputada Dalva Bacelar

Na família Dalva, -“a estrela da aurora, do alvorecer,”- antecedeu a todos desde o nascimento. A mais velha, a primeira mulher, antecipando a saída de casa, em busca de conhecimentos, secundada por Vanda, Raimundo e Antonio.

Nascida em 1924, quando ainda predominava a cultura machista em que as posições e os comandos estavam reservados apenas aos homens, Maria Dalva prenunciava novos tempos. Por índole, não se dobrava a imposições. Por educação sabia respeitar os direitos de cada um, fazendo valer os princípios de Justiça e igualdade social.

Após concluir os estudos voltou à terra natal, para exercer o cargo de Prefeita nomeada pelo interventor estadual Paulo Ramos. A experiência municipal, em Coelho Neto, despertou-lhe a vocação política que a levou à disputa das eleições para uma a vaga na Assembleia Legislativa do Estado. Eleita em 1947 foi a primeira Deputada Constituinte do Estado. Polêmica e corajosa jamais se deixou intimidar por ser a única mulher no colegiado de maioria masculina. Defendeu, por convicção, conceitos e princípios, venceu tabus e prestou relevantes serviços ao Maranhão. Destacou-se recebendo inumeráveis e merecidas homenagens. Foi recebida em audiência no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, pelo Marechal Eurico Gaspar Dutra, então Presidente da República.

Sempre à frente do seu tempo, Dalva inaugurou a primeira boutique de modas na rua do Egito, São Luís, e uma casa comercial no povoado Carmo, município de Coelho Neto. Casou-se com Luís Paulo de Moraes Vilaça com quem teve cinco filhos sendo que a primeira faleceu logo após o parto. Com muito amor e bravura educou Alexandre, Carmelia, Raimundo e Luís Paulo, que formados propiciaram-lhe muito orgulho, realizaram os seus sonhos e deram-lhe belos netos aos quais tanto amou. A nossa querida “estrela da manhã” traçou a sua própria trajetória, foi uma mulher vitoriosa em todos os sentidos. Seus atos e feitos deram-lhe destaque, um lugar nos anais da Assembleia e na história política do Maranhão.

No próximo domingo, dia 31 de janeiro de 2016, imagino D. Maria na calçada do terraço, quase na ponta dos pés, mãos sobre a testa, para rebater os raios solares, olhar fixo na estrada dizendo: “ Duque a nossa Dalva está voltando e, como o Raimundo, vem para ficar eternamente conosco.” Graças a Deus!

DEUS SEJA LOUVADO!

*Dr. Magno Bacelar é advogado e exerceu os cargos de deputado estadual, deputado federal, senador da república, vice-prefeito de São Luís e prefeito de Coelho Neto.


Obs: A Coluna do Magno é publicada periodicamente no Portal Gaditas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário